2006/10/18

foi um verão que espero não voltar a ver








Como é que se faz poesia de profissão, sem acabar na solidão? Como é que se pode ser poeta de profissão, sem vender o coração? Como é que se pode ser poeta sem ter um tostão?


Como é que se pode acabar com a solidão, despojado de tudo, só não querer perder a razão, não poder ser um animal sendo racional. viver numa sociedade onde o social depende do capital. não querer estar em ansiedade, por nesta sociedade me sentir mal, não haverá nada melhor, não haverá nada pior do que viver em casa dos pais. não me sinto assim tao mal, digo os meus ais, liberto a minha dor, procuro sentir o amor, mas onde estou sentado o amor vive encostado a uma parede em frente a uma televisão, uma prisão nas pessoas que não abrem mão do seu coração, tornam -se iguais ao que as rodeia. como tudo é assim, assim também sou, não posso ser diferente por toda a gente quer ser igual, ninguém se quer sentir mal, ninguém quer abdicar do conforto de ter por perto um ombro igual. desiquilibrio brutal, não consigo perceber, não consigo descer, como a lua foge do sol, fujo da terra, fujo do real. não consigo fugir de mim, desisti de tentar, desisti de me embriagar, desisti de me anesteziar, desisti de procurar fora de mim um lugar, procuro um corpo, uma alma, que comigo queira estar, comunicar o momento que se sente, o presente é para sempre o eterno bem estar, é bom estar para sempre bem, é bom saber que existem pessoas amavéis.












"Pés fora do chão, corpo deitado no colchão. sinto demasiadas vezes o coração, por vezes deixo-me evadir pela preocupação, por colocar a questão. constantemente pergunto-me, constantemente vivo submergido pela minha vida, inundado pelos meus pensamentos. torna-se dificil de ver a realidade, o exterior, o material. parece que vivo numa constante agitação com pressa para fazer tudo o que diz o meu coração. quero viver, viver o máximo desta vida, por na práctica os pensamentos, as ideias, a imaginação, e de repente... sinto os pés fora do chão, o corpo deitado no colchão, a cabeça encostada na almofada. como que inutilizada, apenas a mão permanece activa, segura de si e da caneta . enquanto que a razão, algures se questiona dos porquês, dos problemas, dos desperdícios, das prisões, do que devia estar a fazer para mostrar ao mundo que sou capaz de trabalhar, de construir cultura, de fazer rir, de fazer viver, de combater o esquecimento daqueles tantos outros que se esquecem de viver. quem sou eu para julgar as minhas capacidades, quem sou eu para estar sempre a duvidar, quem sou eu para saber por onde começar. começar por pôr os pés no chão e levantar o corpo do colchão."